Período pré-socrático (séc. VII-V a.C.)
Período Naturalista pré-socrático, em que o interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza.
O primeiro período do pensamento
grego toma a denominação substancial de período naturalista, porque a
nascente especulação dos filósofos é instintivamente voltada para o
mundo exterior, julgando-se encontrar aí também o princípio unitário de
todas as coisas; e toma, outrossim, a denominação cronológica de período
pré-socrático, porque precede Sócrates e os sofistas, que marcam uma
mudança e um desenvolvimento e, por conseguinte, o começo de um novo
período na história do pensamento grego. Esse primeiro período tem
início no alvor do VI século a.C., e termina dois séculos depois, mais
ou menos, nos fins do século V.
Surge e floresce fora da Grécia
propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu
(Jônia) e da Itália meridional, da Sicília, favorecido sem dúvida na sua
obra crítica e especulativa pelas liberdades democráticas e pelo
bem-estar econômico. Os filósofos deste período preocuparam-se quase
exclusivamente com os problemas cosmológicos. Estudar o mundo exterior
nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a
que está sujeito, é a grande questão que dá a este período seu caráter
de unidade. Pelo modo de a encarar e resolver, classificam-se os
filósofos que nele floresceram em quatro escolas: Escola Jônica; Escola
Itálica; Escola Eleática; Escola Atomística.
Os filósofos
Tales de Mileto (624-548 a.C.) "Água"
Tales de Mileto,
fenício de origem, é considerado o fundador da escola jônica. É o mais
antigo filósofo grego. Tales não deixou nada escrito, mas sabemos que
ele ensinava ser a água a substância única de todas as coisas. A terra
era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano. Cultivou
também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez,
entre os gregos, os eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia,
fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um calendário, e examinou
o movimento dos astros para orientar a navegação. Provavelmente nada
escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam interpretações
formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia básica: a
de que tudo se origina da água. Segundo Tales, a água, ao se resfriar,
torna-se densa e dá origem à terra; ao se aquecer transforma-se em vapor
e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo
de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas
formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser
resumida nas seguintes proposições: A terra flutua sobre a água; A água é
a causa material de todas as coisas. Todas as coisas estão cheias de
deuses. O imã possui vida, pois atrai o ferro.
Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.) "Ápeiron"
Anaximandro de Mileto, geógrafo,
matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e autor
de um tratado Da Natureza, põe como princípio universal uma substância
indefinida, o ápeiron (ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e
qualitativamente indeterminada. Deste ápeiron (ilimitado) primitivo,
dotado de vida e imortalidade, por um processo de separação ou
"segregação" derivam os diferentes corpos. Supõe também a geração
espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em homens.
Anaximandro imagina a terra como um disco suspenso no ar. Eterno, o
ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares
opostos - água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo. O
ápeiron é assim algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum
elemento palpável da natureza. Com essa concepção, Anaximandro prossegue
na mesma via de Tales, porém dando um passo a mais na direção da
independência do "princípio" em relação às coisas particulares. Para
ele, o princípio da "physis" (natureza) é o ápeiron (ilimitado).
Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a
introdução na Grécia do uso do gnômon (relógio de sol) e a medição das
distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador
da astronomia grega). Ampliando a visão de Tales, foi o primeiro a
formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico
total. Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terremoto.
Anaximandro julga que o elemento primordial seria o indeterminado
(ápeiron), infinito e em movimento perpétuo.
Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) "Ar"
Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando)
que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o
ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de
seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a
água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar. As
diversas coisas que existem, mesmo apresentando qualidades diferentes
entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso)
desse único elemento. Atribuindo vida à matéria e identificando a
divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios
professavam o hilozoísmo e o panteísmo naturalista. Dedicou-se
especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe
sua luz do Sol. Anaxímenes julga que o elemento primordial das coisas é o
ar.
Heráclito de Éfeso
Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da
Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais (descendentes
do fundador da cidade). Seu caráter altivo, misantrópico e melancólico
ficou proverbial em toda a Antigüidade. Desprezava a plebe. Recusou-se
sempre a intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigos poetas,
contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Sem ter sido
mestre, Heráclito escreveu um livro Sobre a Natureza, em prosa, no
dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de
Skoteinós, o Obscuro. Floresceu em 504-500 a.C. - Heráclito é por muitos
considerados o mais eminente pensador pré-socrático, por formular com
vigor o problema da unidade permanente do ser diante da pluralidade e
mutabilidade das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a
existência de uma lei universal e fixa (o Lógos), regedora de todos os
acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal, harmonia
feita de tensões, "como a do arco e da lira".
Suas filosofias eram:
A. Dialética exterior, um raciocinar de cá para lá e não a alma da coisa dissolvendo-se a si mesma;
B. Dialética imanente do objeto, situando-se, porém, na contemplação do sujeito;
C. Objetividade de Heráclito, isto é, compreender a própria dialética como princípio.
Pitágoras de Samos
Pitágoras,
o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C.
Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona,
colônia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o
centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos
da Itália meridional e da Sicília. Pitágoras aspirava - e também
conseguiu - a fazer com que a educação ética da escola se ampliasse e se
tornasse reforma política; isto, porém, levantou oposições contra ele e
foi constrangido a deixar Crotona, mudando-se para Metaponto, aí
morrendo provavelmente em 497-96 a.C.
Segundo o pitagorismo, a essência, o
princípio essencial de que são compostas todas as coisas, é o número, ou
seja, as relações matemáticas. Os pitagóricos, não distinguindo ainda
bem forma, lei e matéria, substância das coisas, consideraram o número
como sendo a união de um e outro elemento. Da racional concepção de que
tudo é regulado segundo relações numéricas, passa-se à visão fantástica
de que o número seja a essência das coisas.
A doutrina e a vida de Pitágoras, desde os tempos da antiguidade, jaz envolta num véu de mistério.
A força mística do grande filósofo e
reformador religioso, há 2.600 anos vem, poderosamente, influindo no
pensamento Ocidental. Dentre as religiões de mistérios, de caráter
iniciático, a doutrina pitagórica foi a que mais se difundiu na
antiguidade.
Não consideramos apenas lenda o que
se escreveu sobre essa vida maravilhosa, porque há, nessas descrições,
sem dúvida, muito de histórico do que é fruto da imaginação e da
cooperação ficcional dos que se dedicaram a descrever a vida do famoso
filósofo de Samos.
O fato de negar-se, peremptoriamente,
a historicidade de Pitágoras (como alguns o fazem), por não se ter às
mãos documentação bastante, não impede que seja o pitagorismo uma
realidade empolgante na história da filosofia, cuja influência atravessa
os séculos até nossos dias.
Demócrito de Abdera
De sua vida sabemos poucas coisas
seguras, mas muitas lendas. Viagens extraordinárias, a ruína material,
as honras que recebeu de seus concidadãos, sua solidão, seu grande poder
de trabalho. Uma tradição tardia afirma que ele ria de tudo. . .
Demócrito e Leucipo partem do
eleatismo. Mas o ponto de partida de Demócrito é acreditar na realidade
do movimento porque o pensamento é um movimento. Esse é seu ponto de
ataque: o movimento existe porque eu penso e o pensamento tem realidade.
Mas se há movimento deve haver um espaço vazio, o que equivale a dizer
que o não-ser é tão real quanto o ser. Se o espaço é absolutamente
pleno, não pode haver movimento.
São características de seu pensamento:
- Gosto pela ciência. Aitíai. Viagens.
- Clareza. Aversão ao bizarro.
- Simplicidade do método.
- Arrojo poético (poesia do atomismo).
- Sentimento de um progresso poderoso.
- Fé absoluta em seu sistema.
- O Mal excluído de seu sistema.
- Paz de espírito, resultado do estudo cientifico. Pitágoras.
- Inquietações míticas: racionalismo.
- Inquietações morais: ascetismo.
- Inquietações políticas: quietismo.
- Inquietações conjugais: adoção de filhos.
19 de junho de 2013 às 13:20
Olá, prof Praciano,
encontrei seu blog através do Filosofando e Historiando - também sou profa de Filosofia, peço licença para colocar seu quadro dos Pré socráticos em meus trabalhos na classe, logicamente mencionando a fonte, parabéns e sucesso, embora os comentários de seus alunos já antecipem isto,
Grata, Sonia - São Paulo